quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Iris: à Beira de Um Ataque de Nervos

Estagnação nas pesquisas, falta de recursos financeiros e deserções
 na campanha alteram perfil de Iris, que em entrevistas, 
parece cada vez mais prolixo e agressivo

Os dois principais candidatos ao governo do Estado, que polarizam a disputa eleitoral, adotam estilos e comportamentos bem diferentes nesta campanha. O ex-prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB), tem se mostrado agressivo, ora nervoso, ora irritado, e partindo sempre para o ataque. O governador Marconi Perillo, por sua vez, tem demonstrado mais tranquilidade, serenidade e, tanto nos eventos públicos de campanha quanto nos programas do horário eleitoral gratuito e entrevistas, mantido o tom propositivo e interativo. 

No caso de Iris, não são poucas as explicações para o perfil adotado pelo peemedebista nestas eleições. A começar pelas pesquisas de intenções de voto. Estes levantamentos ajudam não somente a detectar tendências de comportamento do eleitor, como também têm o poder de empolgar ou desanimar a militância. As últimas pesquisas realizadas em Goiás assombraram a equipe que participa da campanha de Iris. Além dos boatos que dão conta da absoluta falta de dinheiro, o staff irista ainda se vê obrigado a administrar perspectivas de vitória cada vez menores. 

A última rodada da pesquisa Ibope / TV Anhanguera revelou que, em um mês de campanha de rua e programas eleitorais na TV, Iris não conquistou um ponto sequer. A pesquisa Veritá / TV Record / A Redação foi ainda mais cruel com o ex-governador do PMDB. De acordo com o instituto, Iris caiu 1,9 ponto percentual em relação à rodada anterior, publicada no dia 5 de setembro, e quase três pontos desde o primeiro levantamento da série, realizado em 21 de agosto. 
A coordenação de campanha tem falhado no esforço para amenizar os abalos causados na auto-estima do exército do PMDB. Vazou na imprensa, por exemplo, a notícia de que metade da equipe de comunicação a serviço de Iris foi demitida no dia 1° de setembro, por causa da insatisfação do candidato com o trabalho executado pela turma. O marqueteiro Dimas Thomas ainda não foi dispensado, mas todos os dias surgem especulações - alimentadas pelo publicitário Renato Monteiro, aspirante ao cargo - de que Dimas será defenestrado em breve. Iris desconversa: “Não tem nada disso não, é problema lá do marketing", afirmou em sabatina de O Popular.

Mau humor
Os desarranjos internos e o desempenho insatisfatório nas pesquisas têm causado oscilações no humor do candidato a governador do PMDB, que em entrevistas a rádios e emissoras e televisão se dá o direito de explodir em ataques agressivos contra o governador Marconi Perillo. Na semana passada, por exemplo, Iris ficou nervoso até com as perguntas feitas a ele pelos jornalistas Carlos Magno e Silvyê Alves, da TV Record. Interrompeu os apresentadores, gesticulou excessivamente e ainda estourou todos os tempos... Atitude que, aliás, tem se tornado padrão nesta campanha: agiu da mesma forma na última segunda-feira, em debate organizado pelo jornal O Popular. Um dos coordenadores de sua campanha, Luiz Felipe Gabriel, chegou a orientá-lo em um dos intervalos a olhar para o monitor que marcava a cronometragem do tempo.

A certo ponto, na TV Record, Iris levantou o tom de voz quando o apresentador disse que ele não cumpriu a promessa de organizar o transporte coletivo de Goiânia, depois que assumiu como prefeito, em 2005. Afirmou que ninguém “pode apontar o dedo para ele” e dizer que ele “não cumpriu o que prometeu”. “Veja bem, é porque você não se recorda da situação”, disse o candidato, desprezando o fato de que o telejornal em questão veiculou inúmeras matérias relatando o caos no transporte coletivo da Capital. “Cinco anos eu fui prefeito e você não viu uma queixa, uma reação de nada, uma greve. Eram ônibus supernovos”, retrucava Iris. 

Dom divino
Nas últimas entrevistas e sabatinas, o peemedebista voltou a se apresentar como um “enviado de Deus” para administrar Goiás. O curioso é que o tom messiânico do seu discurso aprofunda-se a medida em que aumenta a perspectiva de derrota na eleição. O velho cacique parece convencido de que a sua longeva carreira política se deve a um dom de Deus, e não à sua ambição por poder – como bem frisa os adversários dele. “Se por um lado eu recebi um dom de Deus de ser político, por outro Deus me deu a facilidade de tomar decisões”. É fácil observar que, à medida que o cenário piora, Iris insiste cada vez mais em se apresentar como um enviado dos céus para “salvar” Goiás, como se estivesse submetido a um “verdadeiro sacrifício” em prol dos goianos. 

Outra característica marcante do seu discurso são as várias referências ao passado - em especial ao período em que ele foi prefeito pela primeira vez, em 1963, e governador, em 1983. O candidato diz que existe necessidade de “contar aos mais jovens” o que aconteceu naquela época para mostrar que ele tem aptidão administrativa, mas como as histórias são longas e o tempo de resposta nas sabatinas é cronometrado, o resultado costuma ser desastroso. 

Ainda utilizando a entrevista à TV Record como exemplo, Silvye Alves tentou interrompê-lo duas vezes para avisar que o tempo para entrevista havia se esgotado, mas o ex-governador não parou de falar. Carlos Magno teve de interceder. O mesmo problema aconteceu recentemente na TV Serra Dourada, com os jornalistas Jordevá Rosa e Luciana Finholdt, e na TV Anhanguera, com Honório Jacometto. Na emissora filiada à Globo, a prolixidade de Iris espantou até ele próprio, que ao final dos sete minutos perguntou ao repórter: “Mas já?”.

Marconi
Se por um lado as pesquisas têm causado oscilações de humor e ruídos no discurso de Iris, a possibilidade de vitória já no primeiro turno do governador e candidato à reeleição, Marconi Perillo, vem se traduzindo em uma campanha tranquila, organizada e sem sobressaltos. Nas redes sociais, por exemplo, a supremacia dos militantes da base aliada é indiscutível. Outro sinal de que a campanha vai bem é o número cada vez maior de prefeitos da oposição que aderiram à campanha marconista - o último foi Suélio Lourenço (PMDB), de Santa Terezinha. Ao todo, são mais de 50, de legendas como PT e PSB, embora a grande maioria seja do PMDB. 

Marconi é um político cujo desempenho à frente das câmeras e em sabatinas sempre foi bom. Nessa eleição, à frente de uma estrutura azeitada e com mais de 14 pontos de vantagem sobre o adversário, ele apresenta ainda mais desenvoltura. O governador, até aqui, foi o candidato que errou menos. E é nos detalhes que as eleições costumam ser decididas. 

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