segunda-feira, 23 de março de 2015

Operação Miquéias: Modelo Luciana Hoepers Revela Que Um Prefeito Aceitou Suborno

 A modelo Luciane Lauzimar Hoepers confirmou, em depoimento à Polícia Federal (PF), que oferecia propina a prefeitos para que eles investissem dinheiro de fundos de pensão de servidores municipais em títulos podres. Durante o interrogatório, semana passada, Luciane disse que pelo menos um prefeito aceitou o suborno.

A modelo é acusada de participar da organização do doleiro Fayed Antonie Traboulsi. Pelas investigações da polícia, a organização desviou R$ 50 milhões a partir de negócios suspeitos entre fundos de pensão municipais e estaduais com títulos de baixo valor de mercado.


Luciane foi uma das quatro "pastinhas" presa durante a Operação Miquéias, da Polícia Federal, quinta-feira passada. Elas eram mulheres bonitas usadas pela organização de Fayed para convencer prefeitos a aplicar recursos de fundos de pensão de servidores em títulos podres.

Segundo a polícia, as pastinhas indicavam os investimentos de alto risco para os prefeitos e, nos mesmos encontros, ofereceriam propinas como contrapartida, caso os negócios se concretizassem. A propina correspondia a um determinado percentual dos negócios que, em geral, envolviam milhões de reais.

Depois do negócio fechado, integrantes da organização deduziam as propinas e embolsavam boa parte do dinheiro investido. Pelas investigações da polícia, a compra e venda de títulos resultava sempre em prejuízo para os fundos de pensão e altos lucros para os intermediários.

No depoimento à delegada Andréia Pinho Albuquerque, a modelo confirmou que fez visitas a prefeitos em vários estados e que, durante os encontros, oferecia vantagens materiais aos administradores. Confrontada com informações da polícia, Luciane disse que pelo menos um dos prefeitos aceitou a propina.

Luciane foi indiciada por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. A modelo foi solta na madrugada desta terça-feira depois de passar cinco dias presa. A Justiça decretou a prisão de 27 pessoas investigadas na operação. A polícia prendeu 23 e, depois dos depoimentos, soltou 14. Nove suspeitos ainda estão presos e quatro são considerados foragidos.

Entre os fugitivos está o economista Carlos Eduardo Lemos, um dos supostos chefes da organização. Lemos é um dos ex-diretores do Prece, fundo de pensão dos servidores da Cedae do Rio de Janeiro. Em maio deste ano, dois emissários do economista foram presos no aeroporto de Brasília quando tentavam embarcar com R$ 465 mil escondidos em meias, cuecas e mochilas com destino ao Rio de Janeiro.

Quem será o prefeito que aceitou suborno?

Em Goiás três políticos foram citados em reportagem da revista Isto é, como tendo algum tipo de envolvimento com Luciana Hoepers: O presidente do PMDB do Estado de Goiás, Samuel Belchior, o Prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela e o Deputado Daniel Vilela, filho do prefeito de Aparecida de Goiânia.

Veja a reportagem novamente da Revista Isto é

A revista IstoÉ  realizou reportagem de destaque, com direito a chamada na capa sobre o esquema de corrupção nos fundos de pensão.



IstoÉ cita o prefeito Maguito Vilela e os deputados Samuel Belchior e Daniel Vilela e traz diálogos comprometedores.



O título da reportagem é demolidor: “Poder, sexo e corrupção”.


Como um doleiro e cinco beldades ambiciosas se juntaram a prefeitos e parlamentares para desviar recursos dos fundos de pensão
Josie Jeronimo


Com 11 homens e cinco loiras, em menos de dois anos uma quadrilha em atividade em sete Estados brasileiros desviou R$ 300 milhões de institutos de previdência complementar de servidores municipais. Convencido de que a oferta de beleza feminina poderia ser usada como um argumento irresistível para seduzir prefeitos, que têm o direito legal de movimentar, com uma assinatura, as milionárias reservas que garantem a aposentadoria complementar de funcionários públicos, o doleiro Fayed Traboulsi foi à luta por um mercado próspero e seguro.

BOA DE LÁBIA
Após conversa com parentes do prefeito Maguito Vilela (abaixo),
a “pastinha” Luciane Hoepers (acima) arrebatou R$ 9 milhões


Constituído por arquitetos financeiros, investidores e simples oportunistas, o grupo abusava de uma estratégia clássica – a cruzada de pernas em ambiente de trabalho – para conquistar mais clientes e fechar novos contratos. A quadrilha foi apanhada pela Polícia Federal na Operação Miqueias, assim chamada em homenagem a um profeta bíblico do século VII a.C., conhecido por ter deixado uma maldição que atravessou 2.700 anos: “Ai daqueles que tramam o mal em suas camas”. Em relatório, a PF descreve as aventuras de Luciane Hoepers, Isabela Helena, Fernanda Cardoso, Cynthia Cabral e Alline Olivier em Amazonas, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia e Tocantins. 

Lindas e bem ensaiadas, as moças conhecidas como “pastinhas” eram encarregadas de uma missão decisiva de toda negociação: o primeiro contato. Marcavam visitas em gabinete, aceitavam convites para almoçar e jantar. Não saíam de perto até que os contratos fossem assinados. A polícia não faz relatos explícitos sobre o que ocorria antes, durante e depois dos primeiros contatos. Deixa tudo para a imaginação de cada um. 

Loira, olhos azuis, com tatuagens provocantes num corpo de 1,75 m esculpido em academias de ginástica, Luciane Hoepers, 33 anos, foi a pioneira na atividade. Seu potencial para o negócio foi intuído pelo doleiro Traboulsi e confirmado várias vezes. Num bem-humorado depoimento prestado à polícia, na semana passada, Luciane admitiu que, entre dez prefeitos seduzidos, engatou namoro firme com pelo menos um.

Ambiciosa e desembaraçada – numa experiência profissional anterior animava programas de auditório –, Luciane trouxe resultados com tanta rapidez que a equipe feminina logo foi ampliada. Uma das moças, Fernanda Cardoso, agia em encontros de prefeitos na capital federal. Garota-propaganda de academia, Cynthia Cabral, 31 anos, disputava fundos de pensão (e atenções dos prefeitos) em cidades menores nas vizinhanças de Brasília. Mas nenhuma acumulou tantas proezas como Luciane, especialista em grandes transações. Apenas 72 horas depois de receber Luciane em audiência, em Cuiabá, o prefeito Chico Galindo registrou pedido para transferir R$ 21 milhões para os fundos gerenciados pela quadrilha. Após uma conversa iniciada com dois parentes do prefeito Maguito Vilela, de Aparecida de Goiânia, ela arrebatou R$ 9 milhões, operação que, conforme a Polícia, gerou prejuízo de R$ 1,4 milhão. Antes de se dedicar aos fundos de pensão e de ter sido presa pela PF por participar do esquema, Luciane foi sócia de uma empresa que fornecia material gráfico para prefeituras de Santa Catarina, seu Estado natal. Acusada de apresentar notas superfaturadas, foi afastada da empresa pela antiga sócia.


A mobilização de moças bonitas para dobrar homens públicos é um recurso comum. Quando Brasília debatia a legalização do jogo, sete modelos esculturais recebiam R$ 22 mil mensais para desfilar pelo Congresso e puxar conversa com parlamentares. Hoje, empresas de telefonia, marcas de refrigerante e mineradores investem nesse tipo de auxílio direto. Mas as moças dos fundos de pensão tinham um charme especial: não ficavam de bico calado nas reuniões. Eram treinadas para argumentar em tom profissional sobre opções financeiras, responder perguntas técnicas e comparar rendimentos dos concorrentes, a começar pela Caixa Econômica e pelo Banco do Brasil, maiores reservatórios dos depósitos dos fundos de pensão do setor público, conhecidos por manter uma postura prudente nos investimentos. A combinação daqueles corpos espetaculares – depois que o caso foi parar nos jornais, Luciana Hoepers aguarda convites para fotos em revistas masculinas – com uma conversa em torno de milhões de reais deixava os prefeitos boquiabertos e vencidos. “Todo mundo oferece benefícios para atrair um cliente que possui recursos milionários. Mas o padrão é oferecer vantagens, e não mulheres bonitas,” afirma um executivo da Caixa.

Para desvendar os segredos da quadrilha, a Polícia Federal escalou a delegada Andréia Pinho para conduzir as investigações. Andréia logo viu que o esquema gerou prejuízos ao pensionistas e ganhos incríveis para a quadrilha. Os ganhos maiores não ficavam com a mão de obra feminina, mas mesmo esta era bem remunerada. Costumava receber entre 2% e 5% dos ganhos permitidos por cada negócio. O bando comprou uma dezena de carros de luxo, no valor de R$ 500 mil cada um. Também adquiriu um iate de R$ 5 milhões. No plano pessoal, as companhias femininas abalaram o casamento de pelo menos um parlamentar.

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