terça-feira, 30 de setembro de 2014

Lula e Dilma - Oportunistas, Cínicos e Mentirosos


“O povo do ‘não vai dar certo’, ele geralmente faz o seguinte: quando a gente lança o programa, eles falam: ‘não vai dar certo’. Aí nós fazemos o programa e eles falam: ‘não vai dar certo, isso é um absurdo, esse programa não vale.’ Agora sabe o que eles estão fazendo, Lupi? Eles estão dizendo: ‘o programa não é monopólio de ninguém, o programa pode ser usado por nós’. Obviamente, não deixa de ser um raciocínio. Agora, mostra um oportunismo do mais deslavado nível.”
A máxima atribuída a Lenin, “Xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz”, é tão exaustivamente seguida pelos petistas que sou obrigado a vencer a preguiça para denunciar o método cínico pela enésima vez.
Em 2002, quem era afinal “o povo do ‘não vai dar certo’” senão Lula, que lamentava que os pobres eram conduzidos “a pensar pelo estômago e não pela cabeça” e ficavam sujeitos à distribuição de cesta básica como “uma peça de troca em época de eleição”? Quem queria dizer que “isso é um absurdo, esse programa não vale” senão Lula, para quem o objetivo do então governo do PSDB era “manter a política de dominação que é secular no Brasil”?
E o que fez Lula quando chegou ao poder? Unificou todos os programas contra os quais vociferava, deu-lhes o nome de Bolsa-Família e passou a chamar de “gente tão imbecil, tão ignorante” quem quer que criticasse o conjunto dos programas, como ele próprio fizera. Ou seja: o PT se apropria dos programas do PSDB que ele apenas remodelou e depois chama de oportunista o candidato adversário que quer remodelar aquilo que seu próprio partido criou. Nas palavras de Dilma: “Obviamente, não deixa de ser um raciocínio. Agora, mostra um oportunismo do mais deslavado nível”, como o clássico vídeo abaixo não me deixa mentir:
Pior: o próprio Lula admitiu que o Bolsa-Família foi criação tucana. Ele disse: “Vou lembrar aqui o governador Marconi Perillo [do PSDB]. E faço aqui justiça: além de ser o estado que mais tem essa política de renda, foi o companheiro que, na primeira reunião que tivemos de governador,SUGERIU A IDEIA DA UNIFICAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS DESSE PAÍS.”
O motivo que levou Dilma ao cinismo contra Aécio foi que, apesar da maioria governista, o candidato do PSDB à presidência conseguiu aprovar há duas semanas na Comissão de Assuntos Sociais do Senado uma proposta que mantém o pagamento do Bolsa Família por seis meses para chefes de família que ultrapassarem a faixa de renda prevista pelo programa. Caso entre em vigor, informa a Folha, as novas regras passarão a valer para os casos em que o beneficiário conquistar emprego com carteira assinada.
Aécio falou a respeito, como mostrei aqui, no programa Roda Viva:
Aquele que alcança um emprego no mercado de trabalho, com carteira assinada, que ultrapassa o teto do beneficiário do Bolsa-Família, portanto, ele estaria tendo que sair do Bolsa-Família. O nosso projeto permite, Augusto, que ele continue recebendo por até seis meses, concomitantemente, o seu salário, no seu novo emprego, e o Bolsa-Família. Por quê? Porque o que acontece hoje é o temor daqueles que são beneficiários do Bolsa-Família de buscarem um espaço no mercado de trabalho formal, não se garantirem naquele emprego, não ficarem naquele emprego e perderem os dois. Isto nós apresentamos com base em inúmeras pesquisas que fizemos com beneficiários do Bolsa-Família, porque eu acho que o Brasil tem que parar com essa história de querer comemorar a cada ano um ou dois milhões de famílias a mais beneficiadas pelo Bolsa-Família. O Brasil vai ser um país melhor, quando nós, respeitando os direitos daqueles que recebem o Bolsa-Família – eles são intocáveis -, nós comemorarmos porque o Brasil cresceu, se desenvolveu, essas pessoas se qualificaram, comemorarmos que nós temos dois ou três ou cinco milhões a menos de famílias no Bolsa-Família.
Sem deixar de reiterar que considera o Bolsa-Família extremamente necessário, Aécio explicou a diferença de visão entre seu partido e o PT em relação ao programa:
Para nós do PSDB, o Bolsa-Família é apenas o ponto de partida. Para o PT, infelizmente, é apenas o ponto de chegada.
O senador também lembrou que o programa começou no governo do seu partidário FHC:
Se você for olhar o DNA do Bolsa-Família, você vai encontrar lá o Bolsa-Escola, o Bolsa-Alimentação, o Vale-Gás, o Cadastro Único, que depois foram unificados no governo do presidente Lula.
Aécio ainda comparou os dois governos, esclarecendo primeiro uma diferença moral entre ele e os petistas:
Eu tenho a capacidade, diferente dos nossos adversários, de reconhecer virtudes naqueles que estão em outro campo político. Eu não vejo nos meus adversários só defeitos, tampouco acho que alguém, apenas por estar no meu campo político, só tenha virtudes. O governo do presidente Fernando Henrique foi extremamente importante para que os outros avanços viessem, seja a partir da estabilidade da moeda, talvez a mais importante de todas as reformas feitas naquele tempo; as privatizações essenciais de setores como telefonia, siderurgia, aviação, [de modo que o governo] reconectou o Brasil ao mundo; a Lei de Responsabilidade Fiscal e o início dos programas de transferência de renda foram fundamentais para fazer o Brasil avançar. Ali começou-se a reescrever a história do Brasil. Eu faço justiça ao governo Itamar Franco, que deu o aval político para que o Plano Real fosse concebido.
Plano Real, vale lembrar, contra o rei do ”não vai dar certo” Lula (que o chamou de “estelionato eleitoral”) também lutou e do qual depois se aproveitou com o seu tradicional “oportunismo do mais deslavado nível”.
Mas voltando à fala de Aécio:
Veio o governo do presidente Lula, com a continuidade desses avanços na área social: houve o adensamento desses programas de transferência de renda – eu acho até que nós deveríamos ter feito a unificação desses programas [que resultou no Bolsa-Família] lá atrás. O governo Lula então surfa durante alguns anos na herança bendita do governo anterior, só que essa herança exauriu-se… Esse último período do governo está destruindo essas conquistas, inclusive as sociais, porque os programas de transferência de renda, cantados em verso e prosa como a grande conquista, a grande inovação do governo do presidente Lula, iniciados no nosso governo, hoje perdem o seu efeito com o recrudescimento da inflação. A inflação de alimentos está já próxima de dois dígitos há mais de ano. Então, é hora de encerrarmos esse ciclo de ineficiência e de descompromisso com a ética que hoje norteia o Brasil.
Não há, em suma, o menor problema moral em querer remodelar programas existentes. O problema moral do PT está em acusar os outros daquilo que o partido já fez de maneira muito mais oportunista, cínica, deslavada.
Felipe Moura Brasil – http://www.veja.com/felipemourabrasil

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