domingo, 21 de setembro de 2014

Deena Love no The Voice Brasil


Homossexual assumido, Pedro Figueiredo conta que ainda não sentiu a repercussão avassaladora do programa: 'Levanto a bandeira da liberdade'.

Deena Love arrebatou o público e os jurados na primeira audição do "The voice Brasil": mãe não para de chorar e intérprete ainda não entendeu repercussão (Foto: Reprodução do Facebook)



Aos 2 anos, Pedro Novas Figueiredo não sabia falar direito. Balbuciava algumas palavras desencontradas, mas sabia cantar como poucos a letra de "Tico tico no fubá", de Carmen Miranda. "A gente ficava impressionado como ele conseguia, do jeitinho dele mesmo, cantar bonitinho e afinado", conta Tania Novas, mãe de Pedro, que em menos de 24 horas ficou famoso após aparecer caracterizado como Deena Love na primeira audição do "The voice Brasil": "Não parei de chorar até agora. Vou ficar desidratada até o fim da semana. Só de quinta para sexta, a página dele teve mais de oito mil curtidas".



A emoção materna tem suas razões de ser por motivos vários e óbvios. Emoção que o próprio Pedro ou Deena ainda não sentiu. "Cheguei ao Rio na hora em que o programa foi ao ar para gravar o 'Mais você' na manhã seguinte. Não deu tempo de sentir essa repercussão toda que estão falando. Quando chegar a minha casa, em São Paulo, é que vou poder assimilar tudo isso e minha ficha cair", diz o artista, que começou a cantar profissionalmente aos 16 anos em um bar paulistano. "Cantei com meu pai e ganhei R$ 40 de cachê. Naquela época até que não era ruim. Não tinha contas pra pagar".
Deena Love "nasceu" em 2011
(Foto: Reprodução do Facebook)
A paixão pela música aconteceu quase que instantaneamente. Pedro cresceu em meio a músicos. O avô Eudes era da bossa nova, o pai Mario, violonista, e a avó Izebe tinha discos ds grandes cantoras do rádio. "Eu gostava de coisas bem antigas. Dalva de Oliveira, Carmem Miranda, Aracy de Almeida. Curto muito esse clima vintage", explica ele, que tem 28 anos, e vários vídeos no Youtube com suas performances diferenciadas em cinco didomas diferentes.

A devoção às rainhas do rádio acabou originando a drag queen Deena Davis, que arrebatou público e jurados ao cantar "Calling you" no programa musical. Deena foi inspirada na artista Dinah Shore. "Só que não sabia como se escrevia. E quando vi Deena com dois Es já existia dentro de mim", diverte-se ele, que começou a travestir-se em 2011, época que ainda cantava em cruzeiros. "Sempre havia atividades de recreação, uma noite em que os homens se vestiam de mulher e decidi brincar com isso. Já era algo que fazia antes e me meti a fazer uma Amy Winehouse ao meu estilo mesmo e todo mundo gostou".


Pedro e o pai Mario Figueiredo, que se apresenta com
ele: primeiro show da dupla rendeu R$ 40
(Foto: Reprodução do Facebook)

Homossexual assumido, ele não pensou em se inscrever como Pedro no programa. "Desde o início fiz minha inscrição como Deena e eles me chamaram sabendo o que seria", diz ele, que não esconde: temeu a rejeição: "Sabia que seria impactante por ser algo diferente do que o público está acostumado. Um homem vestido de mulher? Poderia causar estranheza e até rejeição, mas estou no palco para homenagear as mulheres, para enaltecer as artistas. Não quero ser um estereótipo, não gosto de rótulos".

Acostumado a fazer pelo menos três shows por semana, Pedro conta que mesmo não sentindo ou vivenciando o preconceito, sabe que ele existe. "Nunca sofri, mas já vi amigos passando por atrocidades. Não entendo os donos de casas noturnas tradicionais acharem que uma transformista só pode se apresentar em casas LGBT", observa ele, que cita Ney Matogrosso como uma inspiração: "Nunca vi o Ney subir em um palco pra dizer que é homo, bi ou hetero. Aquela figura andrógena e exótica é um artista que está ali para mostrar o seu trabalho. Não levanto bandeiras de sexualidade. Mas de liberdade".
Deena Love veio depois de uma apresentação em 
homenagem a Amy Winehouse
(Foto: Reprodução do Facebook)

Há dois anos Pedro mora em uma casa no mesmo terreno da avó com seu companheiro Jadir, também seu maquiador e figurinista. "Na minha casa todos sempre aceitaram minhas escolhas. Vivemos juntos, trabalhamos juntos inclusive com meu pai", conta. Para Tania, a homossexualidade do filho jamais foi um assunto tabu. "Como poderia ser? Eu me apaixonei por ele ainda na minha barriga. Como iria dizer a um filho que não o amo mais por ser gay. Não entendo que o faça", pondera.

Pedro conta que ainda não pensa em constituir sua própria família, mas acredita no casamento entre iguais. "Não gosto da palavra união estável. Isso pra mim é quase uma sociedade. Não sou sócio do Jandir. O amo, ele é meu companheiro. Adoraria poder adotar várias crianças e que isso fosse possível sem que precisássemos ter que lutar opor este direito. Luto pela liberdade, pela inclusão. O meu direito é como o de qualquer pessoa, hetero ou não".
Pedro como Deena Love de Amy
(Foto: Reprodução do Facebook)
Deena Love e sua maior inspiração: Carmem
Miranda (Foto: Reprodução do Facebook)

EGO

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