sábado, 26 de maio de 2012

Veja Íntegra de Depoimento de Wladimir Garcez na CPI


O ex-vereador Wladimir Garcez (PSDB) depõe na CPI do Cachoeira, em Brasília, nesta quinta-feira
O ex-vereador Wladimir Garcez  depõe na CPI do Cachoeira,(Antonio Cruz/Agência Brasil)
"Excelentíssimo senador Vital do Rêgo, digníssimo presidente desta Comissão Parlamentar de Inquérito, excelentíssimo senhor deputado Odair Cunha, digníssimo Relator, excelentíssimos senhores e senhoras senadores, senhores e senhoras deputadas;
Tenho o maior respeito pelo Parlamento sem o qual não há democracia. Fui vereador, Presidente da Câmara Municipal de Goiânia, ocupei vários cargos públicos na minha vida. Conheço a importância da atividade parlamentar. Estou preso há 86 dias, longe da família, privado dos meus direitos constitucionais de ir e vir, de ouvir e de falar, de conhecer o que se passa no país e sobretudo sobre as acusações que sobre mim pesam. 


Sem nunca ter cometido crime algum, estou encarcerado sob a alegação de que a minha liberdade coloca em risco a ordem pública. Estou sendo acusado de crimes que não permitem a prisão preventiva, pois todos com penas inferiores a quatro anos – perdemos aí a questão dos direitos constitucionais dos quais estou aí nesses 81 dias –, mas a Justiça ainda não me devolveu a liberdade. A lei diz que só posso ficar preso 81 dias, já estou preso há 86 dias. 



Se tive oportunidade de ouvir algumas gravações, foi no início, quando me foi dada a oportunidade de um equipamento para ouvir. Logo após, esse equipamento foi tirado de minhas mãos e não tive oportunidade nenhum de poder ouvir ou ver do que se tratava. Não foi me dado, então, o direito de ter o equipamento para ouvir esses áudios. Depois impediram que eu continuasse ouvindo tais gravações. Por isso, só vou me manifestar sobre os assuntos que eu puder ouvir as gravações.



Como vossas excelências sabem, estou preso, sendo processado e acusado de pertencer a uma organização criminosa. Importante destacar que todas as gravações são ilícitas, não têm qualquer valor jurídico, porque foram autorizadas por juiz incompetente. Segundo as gravações, um senador da República dialogava constantemente com um membro, com Carlinhos, tratava de vários assuntos de interesse deles. Somente o Supremo poderia conduzir a investigação. Assim, não reconheço qualquer validade jurídica dessas gravações. Elas não me incriminam em nada, nem a mim nem a ninguém, porque são imprestáveis.



Das gravações que ouvi, muitas delas foram editadas, as datas não coincidem com os dias em que houve os diálogos. Percebi também que muitos diálogos não foram apresentados ou não foram gravados ou foram ocultados. Não sei exatamente o porquê disso. Por isso, peço aos senhores senadores e deputados que tenham o maior zelo e cuidado ao analisarem a transcrição desses áudios, pois muitos deles são montagens e a ordem dos diálogos não é a mesma do que consta a realidade. Não posso falar de todas, mas, nas que eu ouvi, percebi muitas modificações.



Não sou delinquente, não sou criminoso, tenho história e tenho família. Conheço muitas lideranças deste país, a começar pelo ministro e deputado José Eduardo Cardozo. Sou amigo e coordenador da campanha do doutor Henrique Meirelles, que foi deputado federal em Goiás. Milito na política há mais de 25 anos. Embora adversário político, conheço desde criança o prefeito, ex-governador e senador Iris Rezende, de quem também sou amigo.



O senador Paulo Paim, embora não seja meu amigo, a quem conheço, já foi hóspede em uma casa que possuí em Três Ranchos, para passar para conhecer e passar uns dias com sua família.



Prezo da amizade do doutor Olavo Noleto, assessor especial do Palácio do Planalto, com quem mantenho relacionamento desde quando fui presidente da Câmara do governo do PT de Pedro Wilson, mesmo pertencendo ao PSDB. Já me encontrei várias vezes com eles, mas nunca para tratar de qualquer assunto ilícito.



Também sou amigo e companheiro do Governador Marconi Perillo. E fui companheiro também de Mário Covas, do qual fui coordenador da sua campanha na região Centro-Oeste. Sou amigo do prefeito Paulo Garcia. Conheço e relaciono-me com os principais políticos, vereadores e deputados do estado de Goiás e de outros estados, em todos partidos com quem me relaciono.



Não faço parte de nenhuma organização criminosa. Sem mandato eletivo, fui contratado pela empresa Delta para prestar assessoria ao diretor regional Cláudio Abreu. Como ex-parlamentar, ex-presidente da Câmara... senhores, eu queria me desculpar, porque a gente fica um pouco ansioso e nervoso durante estes momentos. Então, peço desculpas pela minha ansiedade, a forma como estou falando, a forma apressada. Gostaria de me desculpar com os senhores aí.



Como ex-parlamentar, ex-presidente da Câmara, tinha muitos amigos. A minha atuação era orientar e dar informações às pessoas que compunham os vários órgãos. Foi esse um dos motivos que levou a Delta a me contratar, pois mantinha contatos com o governo estadual, municipal, inclusive com o governo federal, empresas privadas e pessoas particulares, sob o ponto de vista institucional. Sempre sob o ponto de vista institucional. Não participei de nenhum processo licitatório nem de qualquer negócio. Minha função era só de assessoramento ao doutor Cláudio e, por isso, ganhava em torno de 20 000 reais. Também assessorava o senhor Carlos Augusto de Almeida Ramos nos seus negócios e na sua empresa de medicamentos Vitapan – mas não participei de nenhum negócio dele nem de nenhum negócio ilícito –, e ganhava por isso 5 000 reais.



Nessas atividades, para me valorizar tanto em relação à Delta quanto ao Carlinhos, sempre procurava mostrar que tinha um bom relacionamento com pessoas de governos e com pessoas ligadas às empresas... intimidade com eles. Muitas vezes, essa intimidade de fato nem acontecia, mas para que eu pudesse manter o meu emprego o meu objetivo era mostrar que eu gozava da confiança dos políticos e garantir esses meus empregos. Tratei com vários dirigentes de municípios como assessor da Delta e de Carlinhos, mas de nenhum assunto ilícito, só institucionalmente.



Como político, o que pretendia era voltar a disputar as eleições e sempre era procurado para conseguir emprego nos vários governos, sejam os estaduais, sejam os municipais, para várias pessoas, antigos cabos eleitorais. Então, procurei fazer indicações, como fiz, buscando colocar pessoas competentes para realmente trabalhar e exercer suas funções. Jamais fiz qualquer indicação diretamente ao Governador Marconi Perillo, pois tratava sempre com seus auxiliares, com seus secretários. Para me classificar junto ao Carlinhos, dizia ele que eu tinha mais poder, mais força. Queria usar o nome dele para conseguir esse emprego. Vaidoso como sempre, ele achava aquilo muito bom. E levei algumas indicações, sendo que nenhuma dessas indicações, como vocês podem ter visto nas gravações que foram mostradas, foi feita. Não consegui as nomeações que falaram por aí. Nenhuma das pessoas que levei foi nomeada pelo governador Marconi Perillo.



Não intermediei nenhum negócio relativo à execução das obras do Parque Mutirama. Acompanhei na Câmara Municipal, pois detinha várias amizades com vereadores. Inclusive os vereadores nem sequer atenderam aos nossos pedidos. Mas não procurei articular nenhum negócio em favor da Delta, tanto que a empresa vencedora não foi a empresa Delta. Se houve doações para campanha eleitoral, eu não tenho conhecimento, não era minha função como funcionário, como empregador.



Sobre a venda da casa do senhor governador, tenho a dizer o seguinte: o governador me disse que estava vendendo sua casa. Eu conhecia a sua casa, interessei-me e queria adquiri-la para mim. Eu não dispunha, na época, do dinheiro. O governador queria vendê-la por mais, mas acabou por fazer um preço para mim em torno de 1,4 milhão de reais. Comprei a casa do governador e pedi um prazo. Eu a ofereci ao professor Walter Paulo, que ficou de pensar. Mostrei a casa ao professor Walter Paulo, e ele disse que só tinha como pagar em julho e que, se até lá eu não a tivesse vendido para outro, ele ficaria com a casa por esse valor de 1,4 milhão.



O governador queria receber logo, e eu queria ficar com a casa para mim ou para vender para outra pessoa, pois vi que o preço estava baixo e eu estava querendo ganhar uma comissão em cima da venda dessa casa. Fiquei com medo de perder o negócio. Eu não podia conseguir o dinheiro e ficar com a casa ou vendê-la por um preço maior e ganhar algum. Então, pedi ao Cláudio, meu patrão, e ao Carlinhos que me emprestassem o valor de R$1,4 milhão, para eu repassar ao Governador. O Cláudio me arranjou três cheques: um de 500 mil, outro de 500 mil e outro de 400 mil reais para os meses de março, abril e maio. Não lembro bem a data desses cheques, mas lembro que eram para o início de cada mês. Não sei quem são os emitentes, nem perguntei de quem o Cláudio recebeu esses cheques. Repassei os cheques para o Lúcio, assessor do senhor governador. Os cheques eram nominais ao senhor governador.



Tentei vender a casa por um valor maior, mas não consegui. E também não consegui arranjar dinheiro. Tentei vender um apartamento que eu tinha, tentei vender um carro e fazer um financiamento no banco Itaú, no qual não consegui crédito para fazer esse financiamento. O Cláudio passou a me pressionar para receber o valor dos três cheques. Com medo de perder meu emprego, resolvi novamente procurar o professor Walter. Não consegui vendê-la por um valor maior. Eu a vendi pelo valor de 1,4 milhão de reais. Recebi em dinheiro e repassei ao Cláudio, quitando, assim, a dívida dos três cheques.



O Professor Walter me deu R$100 mil, que foram pagos em forma de comissão pela venda dessa casa. Dizem por aí que o professor Walter seria laranja do Carlinhos. Muitos políticos goianos, pessoas que militam em Goiânia, sabem que o professor Walter é dono de uma universidade, a Universidade Padrão, dono de vários imóveis, talvez uma das pessoas mais ricas do estado de Goiás. Daria para comprar dez, quinze, vinte vezes Carlinhos e quiçá a própria Delta.



Após a compra da casa, houve o episódio que envolveu a separação da atual esposa do Carlinhos, a senhora Andressa Mendonça, com o suplente do senador Demóstenes Torres. Na separação, foi dada a ela uma casa no Alphaville, no mesmo condomínio onde está a casa do professor Walter. Pedi ao professor Walter essa casa emprestada até que a casa e a reforma da casa da senhora Andressa ficassem prontas. E ele me emprestou essa casa por um período de dois, três meses. Ele tinha comprado essa casa para dar de presente para sua filha. Emprestou essa casa, e a Andressa foi ficando nessa casa. Como vocês sabem, logo depois, a Andressa passou a ser a esposa do senhor Carlos Augusto de Almeida Ramos.



Nunca houve aquela história de que seria entregue no Palácio no mês de junho qualquer dinheiro. As gravações foram montadas. Eu gostaria que vocês vissem bem. Eles jogaram a gravação. Tive oportunidade de ler n'O Popular uma gravação de junho, colocando uma data de uma visita que eu ia fazer no palácio em novembro. Eu gostaria que vocês atentassem para esse fato, para ver que algumas coisas estão sendo montadas de forma a contextualizar, de acordo com o que interessa ao inquérito.



O dia em que eu estive no Palácio foi para tentar mostrar ao Governador um sistema de propaganda indoor, propaganda que é feita de celular, em que uma pessoa solicita uma música ou põe uma música, ou o hino de um time, alguma coisa. Parece uma propaganda institucional. Eu queria mostrar para o governador e nem sequer fui atendido nesse dia pelo governador, sendo que minha audiência foi marcada muito posteriormente, e a pessoa que ia mostrar o programa já não estava mais interessada em mostrar o programa, porque já estava negociando com empresa particular.



Esse dia não foi na data em que se apresentara a fantasiosa entrega de dinheiro na praça. Estive em novembro – repetindo aqui –, estive em novembro e colocaram aquela questão, que fizeram a propaganda, tal, e podem ver que nem sequer se falam nas gravações em que foi entregue dinheiro na praça, de forma maldosa, querendo aí fazer um tipo de relacionamento como se alguma autoridade fosse receber dinheiro no Palácio ou em qualquer outra entidade. Acho que aí entram aqueles absurdos dos absurdos com os quais tenta a imprensa demonstrar falsas ilusões e, através de montagem, fazer coisas.



Aliás, todas essas gravações são ilegais, pois o Supremo Tribunal poderia investigar uma chamada 'incriminação' criminosa que teria um senador como seu envolvido; deveria ter sido por outro juiz competente. 



Então, sendo acusado de contribuir para que o delegado federal de nome Deuselino conseguisse emprego para uma sobrinha, se o Deuselino pediu emprego para o Carlinhos, eu não sei. Se Carlinhos ofereceu emprego ou arrumou emprego, eu também não sei. Não procurei o vereador Fernando Cunha para saber se ele tinha arrumado emprego. Aliás, o Vereador é sobrinho de Carlinhos, e não precisaria de um intermediário para falar com o próprio sobrinho – e nem para falar com político nenhum, né? 



Não integro e nem integrei qualquer organização criminosa. Sou ex-parlamentar, estou sem mandato e tenho um bom relacionamento político. Agi ilicitamente fazendo contatos e apresentando pessoas, aproximando-as, mas não pratiquei qualquer ato, delito, nem qualquer crime.



Encerro aqui as minhas palavras e peço a compreensão de vossas excelências porque não vou responder a nenhuma pergunta. Não ouvi todas as gravações a meu respeito, por isso gostaria de usar o meu direito constitucional de permanecer em silêncio.



Gostaria de agradecer e obrigado a todos".

Fonte: Veja

Nenhum comentário: